segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cabeça de Porco

Num dia quente, em metafísico delírio
Vi, envolto pelo úmido charco,
Uma cabeça de porco sorrindo-me em arco
Velando a tristeza do derradeiro martírio

Atacou-me o encéfalo: que ali faz?
Cri, pois, ter tido uma revelação
Não seria cousa outra, senão uma representação
Aquele suíno crânio que na macega jaz?

O argênteo espelho da raça humana
Refastelante carne gorda sobre a lavagem
Enleva-se ante a estercorária miragem
Da superioridade racional ufana.

Verdadeira como o olhar da cabeça morta
Agracia o semelhante com a companhia
Sorrateira e venenosa feito a víbora fria
Que, com fatal picada, a peçonha conforta

Louvores à língua altruísta!
Inerte, às moscas, musculatura pálida
Reflete o real conceito em anemia esquálida:
A purulência benfazeja de alma egoísta!

Nas protuberantes orelhas esconde
Um tufo de larvas ignotas
Sussurrando bobagens marotas
Sobre deuses ‘não sei quando ou onde’

Interiormente ao craniano receptáculo
Peripécias agudas realizam demônios
Cercados por uma rede de neurônios
Valsam em um maniqueísta espetáculo

É ínfimo como o estreptococos
O suspiro de dignidade
Asseverando que a humanidade
Não suplanta a cabeça dos porcos.

Pablo Du Prado.


Galera, quero divulgar um endereço aí, muito bom, entrem lá: www.hollowgrounds.com.br

sábado, 13 de novembro de 2010

Clausura da Lira

Encerro-me em minha lira triste:
Numa sala escura ouvindo Chopin
Aos versos da vida, cosido o afã
Enterrando os sonhos de que um dia riste

É o que fica à crítica comparada
Não mais do que um pranto em verso
Derivações prefixais, sentença ao inverso
Assim (d)escreve minh’alma inacabada

Não muitas notas e logo virá o ocaso
Preludiando, de meu ser, o fim...
Enquanto arranco poesia dum fosso

O tempo fez de mim um homem raso
Sem quimera alguma, encerro-me em mim
Engolindo os sentimentos junto ao almoço...




OBS: A série de poemas que tenho publicado pertencem a meu livro "Experimentações" que, em breve, será lançado.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A vendedora de bombons

Em uma manhã ensolarada
Envolta por pássaros felizes
E por sentimentos de todos os matizes
Uma senhora a um pilar recostada.

Tão contente o humor desta cidade
Sorrisos tão sem causa, tão vazios
Passos velozes, ritmados e frios
Tão voluptuosa esta universidade

Havia uma senhora triste.

Enquanto o mundo era doce e ameno
Enquanto a paisagem se fazia ditosa
A pele da mulher de expressão penosa
Parecia papel velho, abandonado ao sereno

Não carecia fazer propaganda alguma
Os bombons estão ali, basta que levem
Nem mais fala o sabor: paguem e peguem
Pretensões de crescer, não possuía em suma

Os olhos estáticos vagam incolores
A carga sobre seus ombros é tanta
A solidão não mais a espanta
Pois já secara tal qual seus amores

Havia uma senhora triste.

E aquela tristeza não contaminava
Nem a mim poeta, já tenho as de ego
Já aprendi com o mundo a ficar cego
Quando o espírito de alteridade imanava

Jamais comera algum de seus doces
Aprendera cedo, com a mãe, o ofício,
Cria que mesmo após este suplício
‘Encontrar-me-ia no céu, se para lá fosses’

Mas o abençoado céu não é para ela
Tampouco o dito Éden, o Paraíso
Isso é apenas para quem vive no sorriso
E para a santa banalidade acende vela

E à imortalidade está presa a doceira
Condenada a nunca se ver fagueira
Vivendo nesta solitária aspereza

Nem mesmo a Morte viria buscá-la
Pois, certamente, ao tocá-la
A Morte morreria de tristeza.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Modernidade

Modernidade

Na Modernidade, sou um gostador-de-nada.
Troco de nome, de casa e de canal
Mas não está bom.
Tudo que é novo maravilha e desagrada.
O novo aumentou o mundo
E me diminuiu.
De mãos dadas, meu coração e minha alma partiram
No mesmo pé em que o moderno entrou.
Será que alguém os viu saindo?

Pablo Du Prado.

domingo, 29 de agosto de 2010

A Estrada

A Estrada

O viandante olha para a estrada que não termina,
pois assim é uma estrada: não termina!
Mudam os cenários, a poeira da estrada,
muda a coloração das nuvens no céu,
mas a certeza de caminhar não muda.

Ele interrompe os passos - perquiridor -
será que acertei o rumo?
O ritmo estará certo?
Longe? Perto?
Não sabe a resposta.

Por tortuosa que seja, a estrada é nossa
E a caminhada que empreendemos não ruma a nenhum porto
O início é conturbado e a chegada é tristonha,
a certeza do percurso é a única certeza,
Lembro me de Nelson...
'Caminhemos... talvez nos vejamos... depois'

Pablo Du Prado.

Tentativa...

Concluí, após alguns anos de pesquisa e ensino, que é muito difícil atingir as pessoas com a publicação de um livro. Nada contra os livros, eu os adoro, aliás, gasto muito comprando os meus. Acredito, também, que nada possa substituir o manuseio de um bom livro. Entretanto, há quase uma impossibilidade fazer os mais novos sentirem o prazer de sentar-se com um livo nas mãos e empreender uma boa leitura. Confesso que já havia feito uma tentativa de publicação que resultou falha, seja pela qualidade do texto, seja pelo fato de ser complicado vender livros hoje. Bem, seja como for, pretendo, inaugurar, neste blog, um espaço para publicar meus livros e torná-los públicos, afinal, importa, para mim, que apenas leiam os textos.

Fiquem todos à vontade para ler e divulgar os textos. Não esqueçam, apenas, de mencionar a autoria.