terça-feira, 9 de novembro de 2010

A vendedora de bombons

Em uma manhã ensolarada
Envolta por pássaros felizes
E por sentimentos de todos os matizes
Uma senhora a um pilar recostada.

Tão contente o humor desta cidade
Sorrisos tão sem causa, tão vazios
Passos velozes, ritmados e frios
Tão voluptuosa esta universidade

Havia uma senhora triste.

Enquanto o mundo era doce e ameno
Enquanto a paisagem se fazia ditosa
A pele da mulher de expressão penosa
Parecia papel velho, abandonado ao sereno

Não carecia fazer propaganda alguma
Os bombons estão ali, basta que levem
Nem mais fala o sabor: paguem e peguem
Pretensões de crescer, não possuía em suma

Os olhos estáticos vagam incolores
A carga sobre seus ombros é tanta
A solidão não mais a espanta
Pois já secara tal qual seus amores

Havia uma senhora triste.

E aquela tristeza não contaminava
Nem a mim poeta, já tenho as de ego
Já aprendi com o mundo a ficar cego
Quando o espírito de alteridade imanava

Jamais comera algum de seus doces
Aprendera cedo, com a mãe, o ofício,
Cria que mesmo após este suplício
‘Encontrar-me-ia no céu, se para lá fosses’

Mas o abençoado céu não é para ela
Tampouco o dito Éden, o Paraíso
Isso é apenas para quem vive no sorriso
E para a santa banalidade acende vela

E à imortalidade está presa a doceira
Condenada a nunca se ver fagueira
Vivendo nesta solitária aspereza

Nem mesmo a Morte viria buscá-la
Pois, certamente, ao tocá-la
A Morte morreria de tristeza.

Um comentário:

  1. Como um poema em que sentimentos têm matizes, uma universidade é voluptuosa e uma paisagem é ditosa pode não ser bom?

    Beautiful.

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