Em uma manhã ensolarada
Envolta por pássaros felizes
E por sentimentos de todos os matizes
Uma senhora a um pilar recostada.
Tão contente o humor desta cidade
Sorrisos tão sem causa, tão vazios
Passos velozes, ritmados e frios
Tão voluptuosa esta universidade
Havia uma senhora triste.
Enquanto o mundo era doce e ameno
Enquanto a paisagem se fazia ditosa
A pele da mulher de expressão penosa
Parecia papel velho, abandonado ao sereno
Não carecia fazer propaganda alguma
Os bombons estão ali, basta que levem
Nem mais fala o sabor: paguem e peguem
Pretensões de crescer, não possuía em suma
Os olhos estáticos vagam incolores
A carga sobre seus ombros é tanta
A solidão não mais a espanta
Pois já secara tal qual seus amores
Havia uma senhora triste.
E aquela tristeza não contaminava
Nem a mim poeta, já tenho as de ego
Já aprendi com o mundo a ficar cego
Quando o espírito de alteridade imanava
Jamais comera algum de seus doces
Aprendera cedo, com a mãe, o ofício,
Cria que mesmo após este suplício
‘Encontrar-me-ia no céu, se para lá fosses’
Mas o abençoado céu não é para ela
Tampouco o dito Éden, o Paraíso
Isso é apenas para quem vive no sorriso
E para a santa banalidade acende vela
E à imortalidade está presa a doceira
Condenada a nunca se ver fagueira
Vivendo nesta solitária aspereza
Nem mesmo a Morte viria buscá-la
Pois, certamente, ao tocá-la
A Morte morreria de tristeza.
Como um poema em que sentimentos têm matizes, uma universidade é voluptuosa e uma paisagem é ditosa pode não ser bom?
ResponderExcluirBeautiful.