segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cabeça de Porco

Num dia quente, em metafísico delírio
Vi, envolto pelo úmido charco,
Uma cabeça de porco sorrindo-me em arco
Velando a tristeza do derradeiro martírio

Atacou-me o encéfalo: que ali faz?
Cri, pois, ter tido uma revelação
Não seria cousa outra, senão uma representação
Aquele suíno crânio que na macega jaz?

O argênteo espelho da raça humana
Refastelante carne gorda sobre a lavagem
Enleva-se ante a estercorária miragem
Da superioridade racional ufana.

Verdadeira como o olhar da cabeça morta
Agracia o semelhante com a companhia
Sorrateira e venenosa feito a víbora fria
Que, com fatal picada, a peçonha conforta

Louvores à língua altruísta!
Inerte, às moscas, musculatura pálida
Reflete o real conceito em anemia esquálida:
A purulência benfazeja de alma egoísta!

Nas protuberantes orelhas esconde
Um tufo de larvas ignotas
Sussurrando bobagens marotas
Sobre deuses ‘não sei quando ou onde’

Interiormente ao craniano receptáculo
Peripécias agudas realizam demônios
Cercados por uma rede de neurônios
Valsam em um maniqueísta espetáculo

É ínfimo como o estreptococos
O suspiro de dignidade
Asseverando que a humanidade
Não suplanta a cabeça dos porcos.

Pablo Du Prado.


Galera, quero divulgar um endereço aí, muito bom, entrem lá: www.hollowgrounds.com.br

2 comentários:

  1. hey professor, gostei do seu blog, muito interressante (: aqui esta o meu oldgreyskies.blogspot.com da uma lida e ve o que acha valeu ;D

    ResponderExcluir